Fulano
remexia numa papelada amarelada quando descobriu um boleto do FGTS
que lhe reservava uma generosa quantia extra. Imediatamente pegou sua
empoeirada Carteira de Trabalho e foi até uma agência da Caixa. A
caixa do banco olhou a documentação, disse que ele tinha mesmo
direito a retirar a soma e pediu-lhe a Carteira de Identidade. Ele a
alcançou. Negativo. Sua carteira está rasgada, senhor. Fulano
argumentou que o plástico se soltara um pouco, mas que ela não
estava tecnicamente rasgada. Está sim, senhor. Mas...Se o senhor
quiser pode falar com a gerente. Cadê a gerente? É aquela loira lá.
Fulano dirigiu-se até a loira lá e argumetnou de novo. Inútil. Sua
Carteira de Identidade está rasgada, senhor. Providencie a segunda
via porque esse documento perdeu a validade. Fulano foi até um Posto
de Identificação. Pediram-lhe a Certidão de Nascimento. Mas os
dados sobre a minha Certidão de Nascimento estão aqui na minha
Carteira de Identidade. Olha só: número, local, livro e folha. Com
esses dados não é possível acessar a minha Certidão pelo sistema?
Não. O senhor tem que trazer a sua Certidão de Nascimento. É o que
Fulano faz no outro dia, chegando com aquele papel em mãos, feliz da
vida. Está rasgada, senhor. Onde? Aqui. Esse rasgãozinho aí
impossibilita a minha identificação? Exatamente. O senhor precisa
ir até o Arquivo Público e solicitar segunda via. É rapidinho. Aí
o senhor volta aqui e encaminha a segunda via da sua Carteira de
Identidade. Esse é o sistema. Fulano então vai até o Arquivo
Público e solicita uma cópia da sua Certidão de Nascimento. Em 40
minutos, senhor. Muito tempo, tenho que trabalhar. Posso pegar
amanhã? Claro. No outro dia, Fulano vai buscar sua Certidão de
Nascimento e descobre que a sua cidade não faz parte do sistema.
Como assim, não faz parte do sistema? É uma cidade com mais de 120
mil habitantes. Pois é, senhor, mas não faz parte. É o sistema.
Fulano volta para o trabalho e fala com uma colega sobre o
acontecido. A colega prontamente diz que tem a solução. O Correio
tem um serviço fantástico que envia a Certidão de Nascimento lá
da tua cidadezinha. É este aqui. Liga pra lá e te informa. Alô?
Pois não, senhor. Eu quero solicitar a segunda via da minha Certidão
de Nascimento. Diga-me qual a cidade que eu estarei lhe informando o
valor. Valor, como assim? Sim, cada cidade tem uma taxa. A cidade é
Bagé. 150 reais, senhor. 150 reais por uma cópia da “minha”
Certidão de Nascimento? Sim, senhor. Fulano entra em contato com uma
amiga que trabalhou no Cartório de Registros da cidadezinha e pede
que ela retire uma cópia e envie pra ele. Feito. No outro dia ele
recebe sua Certidão de Nascimento novinha em folha - pagando módicos
R$ 40,00 pelo Sedex - e vai até o Posto de Identificação fazer a
segunda via da sua Carteira de Identidade. Um único e sorridente
funcionário lhe informa que não há funcionários para atender por
causa da greve do transporte público. Volte amanhã. A greve deve
acabar. No outro dia, Fulano acorda e ouve no rádio que a greve
continua e que a temperatura deve chegar a 40ºC. Relaxe e não
reclame. Pode piorar.
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