Texto tem tudo a ver com pelada. De futebol e
de mulher. São as duas comparações mais simplórias, contudo, muito convenientes.
Na pelada de futebol, qualquer um é jogador, exceto o perna de pau que vai para
o gol, para a zaga ou para o exílio na ponta esquerda. Pelada de futebol é pelo
meio, levando a bola como dá, tropeçando, errando, caindo, perdendo, até que
acerta. A canela do outro, o ar, o além, a bandeirinha do escanteio e, quem
sabe, a bola.
Texto é igual. Não há como avançar só pelas
laterais. Você tem que ir pelo centro da ideia, onde surge um emaranhado de
palavras. Você tem que achar o seu toque de bola e driblá-las para chegar lá
frente e alcançar a palavra gol.
Às vezes, apesar de todo o seu esforço, a
derrota é iminente e você pensa até em abandonar o campo. Não dá. Assim como a
pelada, texto tem ética. É nesse momento dramático que você tem que colocar
todo o seu amor varzeano em campo e virar aquele jogo de palavras. Embora o bom
texto seja muito mais do que isso, nem sempre o futebol arte vence.
Com mulher não é muito diferente. Começa que
texto tem anatomia, fala com você e o tom é quase sempre de aguda reclamação. E
não adianta fingir ou ficar calado. Aliás, é calado que você terá de construí-lo.
Texto tem mania, é confuso, quase indecifrável, texto tem até gordurinhas
indesejáveis – por ele, texto. Texto tem
uma infinidade de características que você não pode tornar explícitas, que você
tem que costurar nas entrelinhas para que ele se deixe tirar a roupa.
Nos dois casos, a prática da pelada leva ao
vício.
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