30.5.13

Textos e peladas


Texto tem tudo a ver com pelada. De futebol e de mulher. São as duas comparações mais simplórias, contudo, muito convenientes. Na pelada de futebol, qualquer um é jogador, exceto o perna de pau que vai para o gol, para a zaga ou para o exílio na ponta esquerda. Pelada de futebol é pelo meio, levando a bola como dá, tropeçando, errando, caindo, perdendo, até que acerta. A canela do outro, o ar, o além, a bandeirinha do escanteio e, quem sabe, a bola.

Texto é igual. Não há como avançar só pelas laterais. Você tem que ir pelo centro da ideia, onde surge um emaranhado de palavras. Você tem que achar o seu toque de bola e driblá-las para chegar lá frente e alcançar a palavra gol.
Às vezes, apesar de todo o seu esforço, a derrota é iminente e você pensa até em abandonar o campo. Não dá. Assim como a pelada, texto tem ética. É nesse momento dramático que você tem que colocar todo o seu amor varzeano em campo e virar aquele jogo de palavras. Embora o bom texto seja muito mais do que isso, nem sempre o futebol arte vence.

Com mulher não é muito diferente. Começa que texto tem anatomia, fala com você e o tom é quase sempre de aguda reclamação. E não adianta fingir ou ficar calado. Aliás, é calado que você terá de construí-lo. Texto tem mania, é confuso, quase indecifrável, texto tem até gordurinhas indesejáveis – por ele, texto.  Texto tem uma infinidade de características que você não pode tornar explícitas, que você tem que costurar nas entrelinhas para que ele se deixe tirar a roupa.

Nos dois casos, a prática da pelada leva ao vício.

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