Antes
de mais nada, seria recomendável solicitar desculpas a James Joyce e a Oscar
Wilde, mas como eles não estão presentes e não consta nos autos que entendessem
português, o trocadilho do título fica. As desculpas é que devem se retirar do
recinto. A Literatura – sacou a caixa alta? – me entenderá. Vamos ao que me
interessa.
Quando
o publicitário chega em certa idade, deve encarar um novo briefing, que não vem
de lá pra cá, mas surge tal e qual incômodo desarranjo interno: é hora de
tratar de transformá-la - a idade – em algo a seu favor ou será apontado pelo
algoz mercado para subir ao cadafalso. É hora de se transformar em vintage.
Prazo: antes de ontem.
Você
pode argumentar que seu currículo, seu portfolio, sua expertise e sua esperteza
não permitirão que isso aconteça. Blefe. Pegue mais cartas e continue na mesa.
Primeiro passo: mire-se detalhadamente no espelho. Se você não tem cabelo
colorido ou raspado de um lado, não usa tatoos e uma mescla de roupas de brechó
com peças de marca, prepare-se para um redesign. Os elementos decorativos não
são apenas esses, há uma longa lista que segue tendências. Descubra quais
deverá usar depois de encarar o reflexivo objeto que devolve a sua própria
imagem. O conteúdo deverá continuar o mesmo; o layout, jamais. Para ser fiel ao
que você é, recomenda-se guardar um outro retrato, como o de Dorian Gray, para
consultas em momentos de crise de RG.
A
descoberta dessa fórmula veio da análise profunda e sincera do meu briefing.
Cenário: layout datado, redução de convites para almoçar com a galera, número
crescente de oportunidades de trabalho que grifam o júnior, pretensão salarial
encarada como arrogância e extrema dificuldade de gritar “uhúúú!!!” com
convicção para sublinhar espontaneidade criativa. Como não está morto quem é
espada, fui à esgrima. Ideia: pintar os cabelos em RGB – o mundo do CMYK está
em franca decadência -, comprar All Star de múltiplas cores, calças com longos
fundilhos, óculos Woody Alen, um iParaguai, fazer tatoos mitológicas e a cereja
bolo: um gigantesco fone de ouvido colorido para ouvir loundices.
Você
pode argumentar, dessa vez, que o custo do investimento não compensa o
benefício. Agora você não blefou, só não percebeu os atalhos do mercado ou usa
as referências erradas para seguir o pensamento em curso. Uma palavrinha
mágica: camelô. Fui até um deles. Entreguei a minha lista de compras. Ele me
olhou, apontou a mão na minha direção com o indicador e o polegar em ângulo de
90 graus, disse que eu só poderia ser publicitário e me estendeu um kit com
tudo o que eu desejara. Juntar tudo na sacola custa um certo dinheirinho, mas
entrar numa sala para uma entrevista de trabalho e ver o semblante do cara que
vai falar com você aprovando o conteúdo apenas pela forma, ah, não terá preço.
Se
você leu este texto até aqui, provavelmente está nessa situação - os que não se
encontram nela o abandonaram lá na primeira barricada. Se você gostou da ideia,
mas o recurso logístico do camelô soou brega, vou compartilhar algo que você
vai curtir. Sabendo dos tantos colegas que se deparam com esse solitário
desafio, antecipei-me e pedi um cartão ao vendedor de bugigangas. Para que você
não pague o mico de ser visto se esgueirando por um camelódromo, ele oferece o
serviço delivery, que nada mais é do que a boa e velha entrega à domicílio, com
crase errada e tudo. Topa? Se não der certo, tentamos o teatro, meu velho.
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