Conheci uma frase que não gostava de
ficar sozinha. Quando eu começava a escrever, mesmo que fosse apenas um bilhete
ou uma rala lista de compras, ela surgia e ficava pra lá e pra cá como uma
criança perdida na minha mente. Um dia abri páginas e mais páginas na frente
dela, apresentei-a aos livros. Encantou-se. Seus olhos brilhavam enquanto
mirava suas semelhantes. Passou a viver perto deles, tal e qual poeira ou
traça, em silêncio, ouvindo o que as outras diziam. E assim foi durante muito
tempo. Como estava ficando muito reflexiva e meditabunda, peguei-a pela mão e a
coloquei no Twitter para que brincasse um pouco. Entre tantas frases solitárias
despencando como uma cachoeira, ela sentiu-se em casa. Queria conhecer a todas,
chegou a dizer que não queria mais sair dali, que aquele era o seu mundo. Com o
tempo, apesar de gostar das frases que a faziam rir, desejando até saber quem
as criara, ela cansou-se dos ajuntamentos de palavras muito repetitivos,
grosseiros, raivosos, entediados. Fez amigas, é verdade, mas desejou voltar aos
bons e velhos livros. Tirei-a dali e levei-a de volta para as páginas cheias de
tantas frases, mas em pouco tempo ela já estava casmurra e aborrecida de novo.
Foi quando levei-a a passear pelo Facebook. Assustou-se. Além daquelas que eram
suas iguais, havia ali, também, uma chuva constante de imagens, que não eram
feitas de palavras, mas também falavam. Ela ficava por horas e horas a olhar
aquele desfile que se dirigia para um abismo sem fim. Depois de tanto brincar
nessas redes, ela foi desaparecendo, desaparecendo e sumiu. Faz um bom tempo
que não a vejo. Deixou na minha mente uma lembrança, um rastro, um frescor
infantil, para o qual, por sinal, dificilmente regressará. As frases nascem,
crescem e caem no mundo para serem vistas e revistas por outros olhos, invadir
novas mentes e interagir com as de sua espécie. Não sei de onde ela veio, porque
elas não têm origem definida, pai, mãe, certidão de nascimento, endereço. Sei
apenas que foi embora em direção a algo que procurava, que deve estar
relacionado ao sentido das coisas – e das frases. As frases sempre fazem essa
busca, mesmo sabendo que estão condenadas a viver apenas de onde começam até o
ponto final. Poucas frases transcendem esse limite. Essas não são de se
intrometer na mente de qualquer um, não gostam de se misturar e, quando o
fazem, provocam reações nem sempre positivas. Frases como aquela que foi embora
deixam saudade. Frases misteriosas são precedidas do desejo de conhecê-las.
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